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Moda do Bonde Camarão
Esta moda-de-viola composta por Cornélio Pires e Mariano da Silva, da dupla Caçula e Mariano, retrata o olhar do caipira, do homem do interior, sobre o mundo urbano.

Desde fins do século XIX, os ideais positivistas se instalaram com a República pautaram por uma modernidade civilista que se opunha diametralmente ao mundo tradicional. Assim, o camponês, o pobre do interior e os ex-escravos viram seu mundo banido da nova São Paulo que se configurava. O professor Antonio Cândido aponta que o caipira só era citado em teatros de revista como uma alusão ao ridículo, ao atrasado.

Nesta moda, o olhar do rural sobre a cidade ilustra a promiscuidade das relações urbanas retratadas no bonde, onde os opostos se esbarram e se aturam. Cornélio começa com uma narração: “Moço, vancêis já estiveram em São Paulo? São Paulo é lindo, uma buniteza, mas tem um tal de Bonde de Camarão que prá chacoalhar o corpo da gente, cada tranco... ô peste dos inferno, é pior que carro de boi.


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Aqui em São Paulo o que mais me amola
É esses bonde que nem gaiola
Cheguei, abriro uma portinhola
Levei um tranco e quebrei a viola
Inda pus dinhêro na caixa da esmola!

Chegô um véio se facerando
Levô um tranco e foi cambeteando
Beijô uma véia e saiu bufando
Sentô de um lado e agarrô assuando
Pra morde o vizinho tá catingando.

Entrou uma moça se arrequebrando
No meu colo ela foi sentando
Pra morde o bonde que estava andando
Sem a tarzinha está esperando
Eu falo claro, eu fiquei gostando!

Entrou um padre bem barrigudo
Levô um tranco dos bem graúdo
Deu um abraço num bigodudo
Um protestante dos carrancudo
Que deu cavaco co’ botinudo

Eu vou m´imbora pra minha terra
Esta porquêra inda vira em guerra
Esse povo inda sobe a serra
Pra morde a light que os dente ferra
Nos passagero que grita e berra!



Jornalista, escritor, poeta, folclorista e cantador, ele foi o primeiro a gravar um disco de música caipira. É também obra sua a divulgação desta música, através de um Teatro Ambulante.

Natural da cidade de Tietê (SP), escritor, folclorista, jornalista, poeta e cantador, Cornélio nasceu em 1884. Foi com ele que a música sertaneja passou a ser encarada sob o ponto de vista profissional. A princípio, por volta de 1914, Cornélio dedicava-se a organizar espetáculos pelo interior de São Paulo, para divulgar a arte caipira e apresentar artistas sertanejos.

Com o passar do tempo, aquelas apresentações tomaram jeito de espetáculos, e foi a essa altura que Cornélio Pires tomou a iniciativa de gravar um disco. Ao chegar a São Paulo, porém, viu seu grande sonho cair água abaixo: gravadora alguma queria arriscar um tipo de música que, acreditavam, não teria receptividade junto ao público.

Confiante em seus propósitos, Cornélio não desistiu. Ao contrário, armou-se de toda sua força de vontade, juntou-se a alguns amigos (as duplas Zico Dias e Ferrinho, Mandi e Sorocabinha, Mariano e Caçula) e pagou para gravar seu próprio disco. Lançava, assim , em maio de 1929, a Série Caipira Cornélio Pires. Pode-se dizer, portanto, que ele foi um dos primeiros “independentes” da música brasileira.

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Integrante da “Turma Caipira” de Cornélio Pires, formou com seu irmão Rubens da Silva a dupla Caçula e Mariano.

Foram responsáveis pela primeira moda de viola gravada, "Jorginho do sertão", em 1929 pela Columbia, recolhida por Cornélio Pires. No mesmo ano gravaram diversas modas de viola, entre as quais, "O bonde camarão", "Sô cabocro brasilero" e "A briga dos veio". No ano seguinte a dupla gravou com Cornélio Pires as modas de viola "O jogo de bicho", "Armida" e "Futebol da bicharada".

A dupla fez sucesso e obteve bastante prestígio em meados dos anos 1930. Em 1934, já separados da Turma Caipira a dupla gravou na Columbia as modas de viola "A juriti" e "Nhô Tudeco", de autoria deles. Em 1935, num episódio curioso a dupla desistiu de participar do filme "Fazendo fita" pois irritou-se com o adiamento das gravações devido ao tempo constantemente chuvoso no local de gravações que era ao ar livre no Jabaguara e voltou para o interior. Em 1937 gravou as modas de viola "Moda do mutirão" e "Recortado no jogo", de autoria da dupla. Em 1939 registraram a canção "Alma de violeiro" e a toada "Pião de boiadeiro", ambas de Herculano Silva e J. Macedo. A dupla se separou pouco depois e em 1945 teve relançadas pela Continental a canção "Alma de violeiro" e a toada "Pião de boiadeiro".

Fonte: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira