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Caros amigos do Música de São Paulo
Antes de listar as músicas escolhidas até o momento gostaria de fazer algumas considerações que espero que sejam úteis para alinhavarmos nossas discussões.

Considerando as características particulares de São Paulo proponho pensarmos a história da música no estado em dois grandes momentos:

1. Uma primeira fase de características em geral mais “caipiras” ou “sertanejas” (Ivan pode conceituar mais precisamente) que vai das últimas décadas do século XIX até aproximadamente a década de 50 do século XX. Aqui a cultura de característica interiorana é a que dita a irradiação da música.
2. Uma segunda fase mais urbana, de meados da década de 60 até os dias de hoje. Assim como acontece em outras metrópoles como Nova Iorque e Londres, é o fazer da capital que irradiará a cultura musical, destacando-se uma vocação para abarcar as diferenças e a multiplicidade de estilos em uma ebulição de sonoridades que propiciará a inventividade e a criatividade nas fusões.

Algumas justificativas:

• Não é a toa que será em São Paulo que acontecerão os principais Festivais de canção dos anos 60 – especialmente os da Record – tornando-se a cidade, desde então, o palco propício para o exercício das renovações estilísticas. A própria renovação e a inventividade da música do Rio de Janeiro encontrarão em São Paulo um maior espaço para se desenvolver. Curiosamente, algo semelhante já havia acontecido algumas décadas antes, no âmbito da música clássica: foi no Teatro Municipal de São Paulo durante a Semana de 22 que o nacionalismo modernista revolucionário do carioca Villa-Lobos obteve suas primeiras audições de maior repercussão.

•  Será também em São Paulo que a antropofagia do paulistano Oswald de Andrade, assim como a plasticidade e sonoridade da poesia concreta dos irmãos Campos e o teatro de Zé Celso fundamentarão os híbridos alicerces do Tropicalismo dos primeiros baianos, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé.

•  No final dos anos 60, com muita irreverência, virtuosismo e musicalidade, os Mutantes usarão o fio condutor do rock para reler paulistanamente Beatles, Led Zeppelin, Hendrix, Yes, boleros, rumbas e Silvio Caldas.

• Ainda no cenário do Rock e suas fusões, na década de 70, São Paulo acolheria, entre outras manifestações, o sucesso avassalador dos Secos e Molhados (formado pelo português João Ricardo, o paulistano Gerson Conrad e o mato-grossense Ney Matogrosso) assim como a energia do samba eletrificado dos Novos Baianos (estou certo Paulinho?).

Essas duas décadas de fertilização sedimentariam o terreno para o mais particular dos movimentos musicais de São Paulo, a Vanguarda Paulista. Reunidos em torno do Teatro Lira Paulistana e do palco do Sesc Pompéia, Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e o Grupo Rumo de Luiz Tatit, faziam uso de estéticas muito distintas mas pareciam concordar com o pressuposto de que a inventividade artística e a dicção própria eram princípios inegociáveis e que portanto, a repercussão e o sucesso seriam decorrências (bem-vindas) que poderiam acontecer ou não.

A consolidação do “jabá” como regulador das atividades comerciais das grandes gravadoras e dos principais meios de comunicação de massa atrelada a uma radicalização das especulações musicais no tecer das canções fariam com que o movimento, de grande sucesso de público, ficasse restrito à capital. Os shows e espetáculos dos artistas da Vanguarda Paulista, assim como os da emergente música instrumental paulistana, eram freqüentados fielmente por um público de perfil adolescente e universitário. Foi quase uma década de teatros lotados em longas temporadas e milhares de LPs vendidos, mesmo tendo muito pouco acesso a veículos de divulgação diária como o rádio.


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