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Romaria
O intenso êxodo rural que se processou em nosso país fez com que cidades como São Paulo recebessem uma enormidade de migrantes de várias regiões do país. Embora falemos muito em nordestinos, os grandes contingentes de migrantes para São Paulo foram de caipiras do interior de São Paulo, Paraná e do Sul de Minas e Triângulo Mineiro.

Eram camponeses e habitantes de pequenas cidades que vinham à cidade grande tentar a vida sem nenhum preparo para tal. Se no campo ou nas cidades pequenas sabiam tudo sobre o tempo, a terra, as plantações e os animais e tinham as estações do ano como regente de seus corpos, quando chegam à cidade terão a máquina como senhora de seus corpos. O que mais necessitariam na cidade, como preparo técnico e escolaridade, não tinham. Assim, foram compondo camadas periféricas nas cidades grandes e seus atributos foram tratados como subprodutos culturais pelas classes ascendentes.

Romaria, de Renato Teixeira representa a inserção do estilo caipira no contexto da linha de frente da MPB. Traz definitivamente a musica caipira para junto da juventude, dos universitários e de todas as classes sociais após a gravação de Elis Regina nos anos 70. Poucas palavras, muitos sentidos: “o meu pai foi peão, minha mãe solidão” e mais adiante “como não sei rezar só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar”.



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É de sonho e de pó, o destino de um só
Feito eu perdido em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó, de gibeira o jiló,
dessa vida cumprida a só

Sou caipira, Pirapora Nossa
Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida
Em busca de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte eu não sei, nunca vi
Me disseram porém que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar, só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar



Confesso que não é nada fácil ter que contar minha história. Viver é uma coisa tão normal, que não vejo diferença nenhuma entre a vida de um artista e de qualquer pessoa. Entretanto, num determinado momento de nossa carreira, o trabalho que realizamos começa a ganhar notoriedade e a curiosidade aumenta, então a gente conta alguma coisa...

Muitos estranham o fato da minha música ter origens caipiras e eu ser caiçara, nascido em Santos. Vejo isso como uma questão puramente familiar; são fatos circunstanciais, apenas. Passei a infância em Ubatuba e a adolescência no interior do Estado. Meu pai melhorou de emprego com essa mudança; eu e meu irmão já estávamos em idade escolar; Taubaté, naquele momento, era mais conveniente. Mudamos para lá. E foi muito bom! A música, em Ubatuba, já fazia parte do meu dia-a-dia.

Das atividades familiares a que mais me interessava era a música; todos tocavam e alguns eram, verdadeiramente, músicos. Eu poderia ter sido fogueteiro como meu avô Jango Teixeira, que tocava bombardine na banda. Poderia ter sido professor como meu avô paterno, Theodorico de Oliveira, que tem uma linda história intelectual com a poesia e a literatura.

Renato Teixeira por ele mesmo


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